quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

[Frases e Citações]: Freud, Sobre a Psicologia Como Ciência Natural





Também a psicologia é uma ciência natural. O que mais pode ser? Mas seu caso é diferente. Nem todos são bastante audazes para emitirem julgamento sobre assuntos físicos, mas todos – tanto o filósofo quanto o homem da rua – tem sua opinião sobre questões psicológicas e se comportam como se fossem, pelo menos, psicólogos amateurs. (FREUD, 1938/1975,p.316-317).

Concurso: Ganhe um exemplar do livro Sobre o Behaviorismo, de Skinner.

O envio de frases já está encerrado. Gostaria de agradecer a todos os que participaram e dizer que vieram frases muito legais. Algumas são bem engraçadas e me fizeram rir bastante.



Infelizmente ainda não tive tempo para escolher a vencedora, mas farei isto no final de semana. Até segunda feira será anunciado o nome do vencedor do concurso e sua frase será divulgada aqui no Comporte-se. Mas de antemão, adianto que ainda não coloquei aqui o nome de quem venceu porque realmente estão muito boas as frases e precisarei pensar sobre elas.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O uso de Cobertores no Tratamento de Crianças Autistas

O FelipeFrog postou em seu blog uma matéria a respeito de um método de tratamento para crianças autistas que vem sendo desenvolvido na França, e que consiste em " (...) embrulhar o paciente (vestido apenas pelas roupas de baixo ou nus em caso de jovens crianças) várias vezes por semana durante semanas ou meses com toalhas encharcadas de água fria (10ºC à 15ºC)"(sic). Para aquecer o corpo do paciente, os componentes da equipe o embrulham também com alguns cobertores em um processo que dura 45 minutos. 



Ficou curioso para saber a fundamentação  desta prática? Clique aqui e confira, no blog Psicológico. Vai valer a pena conhecer. O  estudo foi originalmente publicado no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, edição de Fevereiro, 2011. 

Antes de encerrar esta chamada para o texto do Felipe, eu gostaria de chamar a atenção para uma coisa. Existem métodos comprovadamente eficazes, amplamente testados e utilizados em todo o mundo, para o tratamento de indivíduos com o diagnóstico de Transtorno de Espectro Autista (e muitos outros). Não há porque submeter um familiar a este tipo de situação. Uma família investir neste tipo de tratamento, certamente trará a ela muito sofrimento desnecessário, além de perda de tempo e dinheiro. Clique aqui e conheça um exemplo de método de tratamento comprovadamente eficaz para pessoas diagnosticadas com Autismo.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Catálogo da ABPMC com Nome e Telefone de Terapeutas Comportamentais e Cognitivo Comportamentais

Todo ano a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental publica uma lista de associados, organizada por nome do estado e da cidade em que residem. A lista apresenta o nome e telefone de cada associado com a anuidade quitada e pode ajudar a localizar um terapeuta comportamental próximo do local onde você ou algum conhecido seu esteja precisando. 

A lista está disponível no site da ABPMC e pode ser acessada clicando neste link.
Capa do Catálogo de Profissionais associados a ABPMC.


A Teoria Cognitivo Comportamental representa um avanço com relação a Análise do Comportamento?

"Os terapeutas cognitivo comportamentais dizem que a TCC é uma evolução com relação à Análise do Comportamento por ter incorporado componentes cognitivos e afetivos em suas análises, enquanto a Análise do Comportamento só trabalha com o comportamento. Isso realmente representa um progresso da abordagem?"

Esta foi a pergunta enviada pelo Thiago Silveira, do Paraná, para o e-mail neto@comportese.com. Para respondê-la, divido-a em duas: 



1) Será verdade que os Terapeutas Comportamentais excluem componentes cognitivos e afetivos de suas análises?
2) A terapia cognitivo-comportamental representa um avanço com relação à Análise do Comportamento?

Antes de responder a qualquer uma das perguntas, cabe uma pequena discussão sobre o que é comportamento, o que é sentimento e o que é pensamento para a Análise do Comportamento e para a Teoria Cognitivo Comportamental. Acompanhe no site Psicologia e Ciência.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Regras do sorteio do livro

Durante a tarde de hoje eu já divulguei algumas das regras do sorteio do livro, por meio da hashtag #comportese. Vou sintetizá-las aqui:

1 - Tem de seguir @netoec_ no Twitter.

2 - Tem de escrever uma frase bastante criativa sobre Skinner e enviar para @netoec_

Sobre o que é a frase? O tema é livre. Para concorrer basta que ela fale a respeito de Skinner. 

A frase deverá ser enviada para @netoec_ até quarta feira, dia 9 de fevereiro de 2011.  Neste dia eu irei recolher todas as frases enviadas e escolher uma. A que eu gostar mais será contemplada com o livro Sobre o Behaviorismo, enviado pelo correio, na mesma semana.


[Promoção] Comporte-se Sorteia o livro Sobre o Behaviorismo

Quer ganhar um exemplar novinho do livro Sobre o Behaviorismo, de Skinner e recebê-lo pelo correio em até uma semana?

É fácil. Siga @netoec_ no Twitter e fique ligado na hashtag  #comportese

O sorteio será realizado durante a próxima semana. Para concorrer, é necessário ser seguidor de @netoec_ e seguir as dicas deixadas na hashtag #comportese

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Comporte-se: Retrospectiva 2010 - Veja os destaques deste ano.

Ao longo deste ano o Comporte-se bateu todos os seus recordes de visitação. Em algumas situações chegou a 900 visitas diárias; e hoje, estabiliza-se entre 300 e 400. Destacou-se pela aplicabilidade dos assuntos tratados  e especialmente pelas entrevistas realizadas com grandes nomes da Análise do Comportamento.

Alguns de seus posts estão sempre em destaque, permanecendo entre os mais visitados mesmo com novos textos sendo publicados. 



O post mais visitado de todos é o Método ABA de Tratamento a Crianças Autistas, com 2000 visitas. Neste post disponibilizo para Download uma apostila básica do método mais eficaz do mundo para tratamento do autismo e outros Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. 

Em segundo lugar temos e Entrevista Exclusiva com Roberto Banaco, com 1780 visitas. Esta foi a primeira entrevista realizada pelo blog. O Banaco chamou a atenção por sua atenção e simpatia, respondendo cuidadosamente todas as questões e mostrando-se extremamente solícito em todos os contatos realizados.

O terceiro post mais visitado é o Livro Para Download: O Comportamento Verbal - de Skinner. Algum tempo depois de realizar a postagem eu fui advertido dos riscos que corria, referentes a direitos autorais. Para evitar problemas, achei por bem retirar o link para Download do Comporte-se; mas, de todo modo, o livro continua lá no 4shared.com e é bem fácil de encontrar, tanto em português como em inglês.

O quarto post mais lido é a Entrevista Exclusiva: Roosevelt Starling. Como era de se esperar, o entrevistado deu um verdadeiro show em suas respostas. Extremamente didático, promoveu discussões espetaculares ao longo de sua entrevista a respeito de temas importantes na Análise do Comportamento.

A Entrevista Exclusiva com Bruno Strapasson também aparece entre as postagens mais lidas do blog. Falando sobre epistemologia, o entrevistado comenta sobre a relação entre a Análise do Comportamento e outros campos do saber, além de comentar alguns equívocos comuns entre estudiosos da abordagem. 

Outra postagem que destacou-se, não só pelo número de visitas recebidas mas também pela quantidade de comentários e e-mails que rendeu, é Dona Joaninha e Seu Medo de Amar. Em forma de fábula, o texto discute alguns dos possíveis motivos que levam alguém a não conseguir se envolver em uma relação estável após algumas decepções. 

Os textos  da série Habilidades Sociais também se destacam entre os mais visitados. Além das visitas, estes foram os que mais renderam e-mails pedindo indicação de literatura sobre o tema ou de terapeutas que trabalhem com isto em algumas cidades. 

Novamente temos Roberto Banaco na parada. Ele participou de um programa de TV em São Paulo, cujo tema foi Precisamos Discutir a Relação. O link para quem maniestasse interesse em assistir foi disponibilizado aqui. Adivinhem no que deu? Ficou entre as postagens mais visitadas do blog

Outro texto que destacou-se pela quantidade de visitas recebidas é o Análise do Comportamento e Psicanálise no Tratamento de Pessoas Transtorno de Espectro do Autismo: Diálogos Possíveis, de autoria de Marcus Vinícius, Psicólogo Comportamental de Belo Horizonte - terapeuta ABA. O texto apresenta um caso clínico de uma criança que foi atendida por uma Psicanalista e por um Analista do Comportamento simultaneamente, descrevendo como foi o diálogo entre os dois profissionais destas abordagens distintas. É um texto excelente.

Outro post que se destacou pela quantidade de visitas foi a Entrevista de Denis Zamignani sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Como é de se esperar, o professor foi extremamente didático ao falar do transtorno em termos comportamentais.  

Muitos outros posts se destacaram, por diversos motivos. Aqui estão apenas os mais visitados e que renderam maior número de contatos comigo. 

Agradeço a todos os que contribuem com o Comporte-se. Obrigados a todos os que concederam entrevistas, escreveram e leram o blog. É graças a vocês que ele existe. Assumo o compromisso de criar condições para que, neste novo ano, o blog continue recheado de material de qualidade - cada vez mais de qualidade -, e não se esqueçam, este espaço é para vocês.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Feliz Natal e Próspero Ano Novo a Todos

Desde o dia 16/11 de 2008 venho postando no Comporte-se e muitas mudanças ocorreram desde então, tanto na imagem do blog quanto no estilo das postagens. Já foram postados textos pessoais, já foram realizadas análises funcionais de diversas situações, já foi realizada divulgação de material, já foram postadas respostas a críticas feitas à Análise do Comportamento, entre tantas outras coisas. O que não mudou, foi o carinho dos leitores que sempre se manifesta por meio de comentários nos posts e principalmente e-mails.



Gostaria de deixar meu agradecimento a todas estas pessoas e desejar-lhes um feliz natal e próspero ano novo. É graças a elas que o Comporte-se existe e é o que é hoje. 

Já faz um tempo que não posto nenhuma atualização e isto gerou protesto por parte de alguns seguidores do blog. Gostaria de pedir desculpas por isto. Não era minha intenção decepcioná-los. O que acontece é que estou chegando ao final da faculdade e, para completar, estava em final de semestre também; o tempo estava muito escasso. Mas assumo o compromisso com todos, de que novos posts estão vindo por aí. Abro também a possibilidade de os leitores do blog publicarem aqui, como o Vinícius publicou este texto sobre autismo. Quem tiver interesse, basta enviar o texto para neto@comportese.com que ele será avaliado, caso seja necessário irei sugerir alterações e em seguida será publicado. 


Podem ser enviados textos sobre quaisquer assuntos tratados por quaisquer abordagens da Psicologia. A exigência é que não sejam textos muito técnicos, mas que também não sejam textos mal elaborados. O texto também não deve ser longo: leitores de internet tem preferência por textos pequenos e fáceis de ler. 

No mais, ficam aqui meus votos de feliz natal a todos. Novamente agradeço o carinho que me dedicaram nestes mais de 2 anos de existência do Comporte-se.


sábado, 20 de novembro de 2010

Você já parou pra pensar no que motiva a homofobia?

Rodrigo Xavier discute uma das possibilidades em seu texto Por Que as Pessoas Sentem e Praticam a Homofobia? postado no site Psicologia e Ciência neste dia 16 de novembro. 

Seu texto parte de uma cena do seriado americano Glee, na qual Dave, um valentão homofóbico, beija Kurt, um rapaz que era vítima de Bulliyng por ser gay. Xavier usa o conceito de Formação-Reativa, de Freud, que foi operacionalizado pelo Analista do Comportamento Murray Sidman, em seu livro Coerção e Suas Implicações para explicar esse comportamento.



Basicamente, diz-se que a homofobia pode ser fruto de um padrão de resposta contrário aquele que foi punido; no caso, comportamentos que caracterizam interesse por outros homens. Ilustra com a citação de Sidman: “Quando somos fortemente impelidos em direção a uma ação que inevitavelmente trará um choque, uma maneira efetiva de nos impedirmos de fazê-lo é fazer o oposto" (p.182).

O autor cita também uma pesquisa realizada nos EUA que demonstrou que homens homofóbicos se excitam ao assistir filmes de sexo gay, enquanto aqueles que não são homofóbicos se excitam apenas diante de cenas de sexo hétero ou homossexual feminino. 

O texto é ótimo e vale a pena ler inteiro. Clique aqui para ter acesso.

Naturalmente "esconder um desejo secreto por pessoas do mesmo sexo" não é o único motivo que leva alguém a se comportar como homofóbico. Por exemplo, um indivíduo que cresce em meio a um grupo social com regras rígidas de rejeição à homossexualidade provavelmente irá se comportar de maneira hostil com homossexuais.

E você, leitor? Em sua opinião, o pode motivar a homofobia? 

sábado, 13 de novembro de 2010

[Nota] Livro para Download: O Comportamento Verbal - B. F. Skinner


Há alguns dias encontrei no 4shared.com o PDF completo do livro O Comportamento Verbal, de B. F. Skinner e disponibilizei no comportese.com o link para Download, mas em consideração à Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998, que versa sobre Direitos Autorais, optei pela remoção do conteúdo. 

Gostaria de pedir desculpas aos leitores pelo mal entendido e colocar-me à disposição para quaisquer esclarecimentos através do e-mail: neto@comportese.com

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Análise do Comportamento e Psicanálise no Tratamento de Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo: Diálogos Possíveis (Caso Clínico)

Autor: Marcus Vinícius Fonseca de Garcia
Psicólogo Clínico – marcusvfg@yahoo.com.br



A pluralidade de contribuições no tratamento de pessoas do espectro do autismo pode ser importante, contudo, algumas incompatibilidades inevitavelmente ocorrem quando essas pluralidades dialogam, o que não é ruim. É justamente assim que as coisas avançam em se tratando de ciência. Com essas trocas de informação, variações e seleções entre o que realmente representa contribuição e o que se torna obsoleto ao longo dos anos ocorrem naturalmente. São processos que ocorrem não apenas em psicologia, mas também em diversas outras áreas.

Como exemplo de incompatibilidade, cito um caso recente em que a mãe de um menino autista de sete anos buscou tratamento psicológico de abordagem analítico-comportamental após encaminhamento do psiquiatra da criança. A mãe, psicóloga e afeita à psicanálise, já havia buscado tratamento psicanalítico para o filho, e este, desde os quatro anos, vinha tendo atendimentos semanais de orientação psicanalítica. Após consultar a psicanalista sobre a busca de um tratamento concomitante ao seu, mas de orientação analítico-comportamental, a mãe obteve seu consentimento, desde que houvesse diálogo entre os profissionais. Os pais então compareceram à instituição em que a criança freqüentava acompanhamento em sala-recurso e relataram o desejo de iniciar tratamento psicológico analítico-comportamental, porém sem interromper o tratamento psicanalítico em andamento. O psicólogo analista do comportamento, por sua vez, consentiu que fosse iniciado o tratamento, com a garantia dos pais de que havia concordância da profissional psicanalista.

A criança, já havia alguns meses, vinha exibindo freqüentemente comportamentos considerados inapropriados no ambiente escolar, como quebrar vidros das janelas da sala de aula, virar a mesa da professora, agredir colegas, quebrar e rasgar materiais, entre outros. O psicólogo, após ouvir relatos dos pais e interagir com a criança em consultório, iniciou a elaboração de análises funcionais dos comportamentos-problema. Fez visitas à escola da criança, onde conversou com sua professora e com a coordenadora pedagógica e pôde observar em ambiente natural a exibição contextualizada de comportamentos, antecedentes e conseqüências.

Após análises funcionais, foi formulada a hipótese de que alguns comportamentos estavam sendo mantidos por fugas, ou seja, eram mantidos por reforçamento negativo. Por exemplo, nas ocasiões em que quebrou janelas, o pessoal da escola imediatamente telefonou aos pais para que buscassem a criança, o que rapidamente fizeram. Isso ocorreu também como conseqüência imediata nas ocasiões em que a criança repetidamente virou a mesa da professora. Após rasgar repetidamente materiais de atividades, era retirado da sala em que estava com os colegas e recebia atenção individualizada da pedagoga em outra sala. As conseqüências dos comportamentos inapropriados estavam aumentando a probabilidade de que a criança voltasse a emiti-los, embora isso não fosse ainda claro para as educadoras e para os pais. 

A criança, ao exibir comportamentos inapropriados, era fonte de estimulação aversiva para as educadoras. Isso, inclusive, parece ser o motivo do uso do adjetivo “inapropriado” para se referir a esses comportamentos. Qualquer comportamento das educadoras que tivesse como conseqüência a eliminação, mesmo que momentânea, dessa fonte de aversivos era reforçada. Ou seja, os pais reforçavam os telefonemas das educadoras ao imediatamente buscarem o filho sempre que estas telefonassem e dissessem “hoje ele está muito nervoso”. As educadoras, por sua vez, reforçavam comportamentos inapropriados da criança ao permitirem, como conseqüências, fugas do ambiente escolar ou da sala de aula.

O psicólogo deu orientações às educadoras para que não permitissem que conseqüências de fuga sucedessem a exibição pela criança de comportamentos inapropriados. As educadoras foram alertadas de que essa medida seria provavelmente acompanhada por um aumento inicial das respostas que se pretendiam diminuir, chegando-se a um ápice e posterior diminuição efetiva, caracterizando, assim, um processo de extinção operante. Foram orientadas também a combinar com a criança períodos de descanso ao longo do dia, que seriam sempre conseqüentes à exibição de comportamentos socialmente aceitáveis ou colaborativos, como, por exemplo, um pedido verbal – ”quero descansar” ou a conclusão de atividades. Foram também orientadas a identificar e utilizar nas situações de aprendizagem materiais temáticos do interesse da criança. Nessa tarefa, foram auxiliadas pelo psicólogo, que obteve informações com os pais a respeito desses materiais.

As educadoras, no entanto, poucos dias após essas orientações, disseram que a psicanalista da criança havia dito exatamente o contrário. Que era para que a deixassem mais livre e não exigissem muito dela em atividades.

Psicólogo e psicanalista se encontraram e conversaram sobre o caso. Ela explicou o embasamento de sua proposta de orientação à escola. Disse que não havia o lugar do Outro para a criança e que, se fosse demandado menos dele, ele buscaria contato com o Outro e se estabeleceriam assim relações simbólicas fundamentais. O psicólogo, por sua vez, explicou também o embasamento das orientações que havia dado à escola, ressaltando que, caso perseverassem situações de reforço contingentes a comportamentos inapropriados, alguns destes agressivos, a criança provavelmente se tornaria um adolescente muito difícil de se lidar, uma vez que bloquear ou redirecionar respostas agressivas de uma criança de sete anos é menos problemático do que fazê-lo com um adolescente ou um adulto.

Ao fim do diálogo nesse dia, após quase duas horas de trocas incessantes de informações, houve um acordo de que seriam seguidas as orientações embasadas nas análises funcionais realizadas pelo psicólogo analista do comportamento. Nesse diálogo, a cordialidade foi fundamental para que se pudessem identificar as prioridades no caso.

Certamente é possível o diálogo entre psicanalistas e analistas do comportamento, embora, muitas vezes, incompatibilidades de planos, procedimentos e propostas de intervenção tornem necessário que se discutam possibilidades e que se façam escolhas. Em um plano histórico de evolução cultural, diversas e difusas seleções resultantes de escolhas entre variadas possibilidades clínicas apontarão os caminhos a serem trilhados por profissionais na elaboração, utilização adequada e aprimoramento de intervenções e procedimentos que se mostrem coerentemente eficazes no tratamento psicológico oferecido a pessoas com transtornos do espectro do autismo e seus familiares.

sábado, 6 de novembro de 2010

[Eventos de Análise do Comportamento] 1ª Jornada de Análise do Comportamento de Belém - Pará

Bases Epistemológicas do Estudo do Comportamento

Belém destaca-se como polo de concentração de Doutores em Análise do Comportamento em nosso país. Na UFPA são 13, que contribuem significativa e sistematicamente com a área por meio de produção científica. Entre estes, 10 estão vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. 


Neste contexto, a JAC configura-se como uma oportunidade para alunos de graduação em Psicologia da UFPa e de outras Universidades entrarem em contato com o que vem sendo produzido na área e com pesquisadores importantes na Análise do Comportamento. 

O evento ocorrerá entre os dias 17  e 19 de novembro, no Auditório Setorial I da Universidade Federal do Pará. 


Para maiores informações, acesse o site da JAC clicando aqui. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entrevista Exclusiva - Bruno Strapasson

Dando continuidade à série de entrevistas com Analistas do Comportamento, segue a realizada com Bruno Strapasson, colaborador de pesquisa da UFPR, professor das Faculdades Integradas do Brasil e professor adjunto da Universidade Positivo. Tem se dedicado há vários anos ao estudo da história e filosofia da Psicologia e Psicologia Experimental, com ênfase em Análise do Comportamento. É mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista e doutorando em Psicologia Experimental pela USP.


Vamos começar conhecendo um pouco de sua história. O que te levou a cursar Psicologia, e posteriormente a se interessar pela Análise do Comportamento/ Behaviorismo Radical? 

Penso que posso dizer que minha formação foi menos planejada que guiada pelas oportunidades que me surgiram. Escolhi psicologia sem saber bem do que se tratava (não tinha feito terapia e não conhecia nenhum psicólogo), acho que eu queria estudar aquilo que era representado na televisão como a ciência que estuda o comportamento (o que à época se resumia a esboços rasos de teorias e imagens de cérebros em terceira dimensão – talvez não muito diferente de hoje). 

No segundo ano da graduação, mais imitando colegas que ciente das implicações de fazê-lo, comecei a estagiar simultaneamente no Núcleo de Análise do Comportamento (NAC) e no Laboratório de Neuropsicologia (LabNeuro) da UFPR nos quais permaneci praticamente até me formar. Neles me envolvi em algumas pesquisas e projetos de extensão universitária. No NAC aprendi que a Análise do Comportamento não era simplista e mecanicista como diziam meus amigos psicanalistas, no LabNeuro uma comunidade também preocupada com o embasamento científico da psicologia me ajudou a manter sempre um olhar mais objetivo sobre a psicologia. Entretanto, no final do curso comecei a me preocupar mais com os fundamentos filosóficos e conceituais da psicologia e fui convencido de que a Análise do Comportamento constituía uma saída para minhas dúvidas que era mais consistente que as demais opções que eu conheci. Esse convencimento se deu principalmente pela leitura assistemática de alguns textos do professor José A. D. Abib, de minhas participações nas ABPMCs que ocorreram durante minha graduação e pela influência do professor Alexandre Dittrich, recém-chegado na UFPR. Desde então, venho me dedicando ao estudo da Análise do Comportamento, primeiramente me concentrando na elucidação de alguns aspectos teóricos que me incomodaram e, atualmente, tentando aprender a fazer experimentação. 

Em seu ponto de vista, quais são as diferenças no modelo explicativo do Analista do Comportamento com relação a psicólogos de outras abordagens ditas científicas, tais como a Cognitivo-Comportamental, a Neuropsicologia, entre outras? Em relação a estas diferenças, existe alguma vantagem para a Psicologia adotar o modelo da Análise do Comportamento? 

Há muitas diferenças entre a perspectiva da Análise do Comportamento e outras perspectivas psicológicas. Cada proposição teórica se difere das demais teorias em alguns aspectos e se aproxima em outros e seria inviável discorrer aqui sobre todas essas diferenças. Entretanto, no meu ponto de vista, o compromisso do Behaviorismo Radical com variedades específicas de contextualismo, pragmatismo e externalismo, bem como o modelo de seleção por consequências são diferenciais importantes da Análise do Comportamento em relação às demais teorias. Ainda que se assuma que há muitas questões conceituais a serem respondidas no Behaviorismo Radical – e entendo que isso seria inevitável numa perspectiva que se intitula científica –, entendo que essas características constituem uma base estimulante para se continuar fazendo pesquisa (básica, aplicada, tecnológica e conceitual) em psicologia. 

Não sei se é possível dizer que o Behaviorismo Radical confere vantagens na pesquisa em psicologia uma vez que qualquer avaliação desse tipo demandaria o uso de critérios arbitrários que seriam impossíveis de serem definidos sem se partir de um referencial teórico, tornando assim qualquer avaliação tendenciosa. Se, a despeito disso, adotarmos os objetivos skinnerianos (i.e. previsão e controle do comportamento) acrescidos de um terceiro critério (coerência conceitual) acredito que a Análise do Comportamento, tem melhores condições de alcançar esses objetivos em relação aos demais referenciais teóricos. Isso depende, entretanto, da sobrevivência da própria Análise do Comportamento enquanto uma prática cultural o que, por sua vez, não depende apenas da consistência teórica dessa perspectiva. 

Em sua opinião, o que falta para que este modelo explicativo tenha um reconhecimento maior, e consequente aceitação maior por parte de estudantes de Psicologia, psicólogos de outras abordagens e mesmo profissionais de outros campos do conhecimento?

A aceitação e adoção da análise do comportamento são processos complexos e difíceis de serem analisados (como a maioria dos eventos humanos). Entendo que muitos fatores interferem nesses processos, desde o repertório de entrada dos alunos nas universidades (muitos alunos fazem psicologia motivados por suas experiências prévias com a profissão ou com textos pontuais de autores clássicos, o que certamente interfere na escolha do referencial teórico), passando pela relação entre os alunos e professores dos cursos de psicologia até a manutenção de práticas culturais que promovam e disseminem a Análise do Comportamento no Brasil, dentre outros fatores. Skinner sugeriu no Beyond Freedon and Dignity que se uma cultura não cria as contingências para a própria sobrevivência, tanto pior para essa cultura. Neste sentido, na media em que podemos compreender o exercício e ensino da Análise do Comportamento como práticas culturais a criação de contingências que favoreçam essas práticas torna-se imprescindível. 

Em minha opinião, os analistas do comportamento ainda têm feito pouco nessa direção. Felizmente, é inegável hoje aceitar um crescimento da Análise do Comportamento no Brasil. Esse crescimento se expressa e ao mesmo tempo se consolida, na criação das diversas Jornadas e encontros que tem surgido espontaneamente nas diversas regiões do país e nas recentes manifestações da ABPMC em defesa da Análise do Comportamento em contextos oficiais. Entretanto, nos falta ainda empenho em divulgação científica, diálogo com outras disciplinas (ex. medicina, neurociências, antropologia, linguística, etc.) e maior integração entre a pesquisa básica, aplicada e conceitual. 

O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento tem algo a aprender com outros campos do saber?

Sem dúvida. A Análise do Comportamento pode se beneficiar grandemente com o dialogo tanto com outras áreas do saber como com outras perspectivas teóricas em psicologia. Exemplos disso são bastante expressivos: a terapia analítico-funcional de Kohlenberg e Tsai se inspirou no conceito psicanalítico de transferência, o modelo de seleção por consequências é baseado na teoria da seleção das espécies de Darwin e a pesquisa sobre correspondência verbal-não verbal foi estimulada pelas proposições de A. R. Luria. Gosto muito de um artigo do professor Júlio C. C. De Rose publicado no primeiro número da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva que sugere a ideia de que todo psicólogo, ou outro profissional de alguma forma ligado à psicologia, tem como fonte de dados o comportamento dos organismos. Desse modo, ainda que se criem explicações bastante diferentes daquelas propostas pelos analistas do comportamento, esses profissionais estão produzindo dados sobre o comportamento e muitas vezes enxergando eventos para os quais os analistas do comportamento ainda não atentaram suficientemente. 

Além disso, a Análise do Comportamento pode ser muito beneficiada pelos desafios impostos por outras disciplinas e referenciais teóricos. Ao tentar explicar os eventos observados por essas áreas do conhecimento e teorias psicológicas a Análise do Comportamento pode avançar mais rapidamente em direção a uma explicação mais completa do comportamento. Obviamente, a análise da produção de outras teorias não implica assimilação de aspectos teóricos dessas teorias, a apropriação de conceitos de outras teorias tem, em geral, efeitos perniciosos pois dificulta a manutenção da coerência filosófica e conceitual do Behaviorismo Radical, a identificação das contingências envolvidas nas práticas de outros profissionais, entretanto, é parte do que o analista do comportamento deve analisar.

Em seu artigo publicado juntamente com Kester Carrara, intitulado “John B. Watson: Behaviorista Metodológico?”,  o senhor conclui que a atribuição do adjetivo Metodológico a Watson é errônea quando interpretada como expressão definidora de uma posição dualista; e irrelevante, quando atribuída como indicativo de um percurso histórico.  Porém, como o próprio texto sinaliza, é comum muitos autores caracterizarem-no como tal. Em sua opinião, a que se deve esta confusão? 

Essa questão guiou de um trabalho que apresentei na ABPMC de 2009 e que está em processo de publicação. Responder a essa pergunta remete necessariamente ao problema de determinar influências intelectuais e essa é uma tarefa difícil em que raramente é possível produzir uma resposta segura. Entretanto, por meio de uma revisão bibliográfica, eu encontrei alguns indícios que podem nos ajudar a responder a essa pergunta. 

Os dados que eu analisei sugerem que ao menos três fatores contribuem para a caracterização descuidada de Watson como behaviorista metodológico: (1) a relutância de Watson em delimitar seus compromissos filosóficos, especialmente no início de sua carreira, (2) o fato de que poucos autores brasileiros recorreram a textos de Watson para além do manifesto behaviorista de 1913 (texto que pode dar margem ao entendimento errôneo dos compromissos ontológicos de Watson) e (3) a influência de Maria Amélia Matos que, além de uma pesquisadora muito influente na Análise do Comportamento brasileira afirmou, mais de uma vez, ser Watson um behaviorista metodológico dualista. Entendo, entretanto, que se os autores brasileiros recorrerem a uma gama mais ampla de textos de Watson quando pretenderem caracterizar sua proposta inibiremos a propagação de caracterizações incorretas na literatura da nossa área e, consequentemente, evitaríamos cometer com o behaviorismo clássico os mesmos erros que acusamos outros teóricos de cometer em relação ao Behaviorismo Radical de Skinner: uma caracterização caricata e enviesada. 

Poderia deixar algum conselho ou dica para os futuros profissionais Analistas do Comportamento?

Evitem o dogmatismo, o ecletismo, os argumentos de autoridade e desenvolvam suas práticas com seriedade. O dogmatismo é prejudicial em si mesmo. Analistas do comportamento que assumem de saída que o Behaviorismo Radical é a melhor forma de pensar sobre o comportamento sem se permitir questionar os próprios preceitos dessa perspectiva tendem a minimizar o diálogo com outros profissionais e teorias bem como a estancar o desenvolvimento do próprio behaviorismo. Todavia, esse alerta não torna razoável assumir que é recomendável adotar mais que um referencial teórico para fundamentar sua prática ou mesmo que é aceitável utilizar a Análise do Comportamento para fundamentar uma intervenção X e outra proposição teórica para fundamentar uma intervenção Y (o que caracterizaria ecletismo). 

Ainda que, em alguns aspectos, aproximações entre as diferentes teorias sejam possíveis, o embasamento de práticas em mais do que um referencial tende à incoerência conceitual e a efeitos deletérios da atuação do psicólogo. Outro cuidado importante é evitar confiar em uma proposição apenas porque ela foi feita por uma pessoa importante. Mesmo os grandes nomes da psicologia  comentem descuidos e os behavioristas não são exceções. Ainda que as proposições dos grandes autores possam ser bons guias, elas não devem ser tomadas como a verdade. Por fim, o trabalho sério depende de uma sólida fundamentação teórica de modo que, como diria uma colega minha, se “na prática a teoria não funciona” é porque há algo errado na teoria ou na prática. Portanto, estude muito, faça uso da facilidade de acesso que temos a textos hoje se aprofunde naquilo que tem sido feito sobre o tema que você está interessado. A ciência é uma prática coletiva, se não nos aproveitarmos daquilo que é produzido pela nossa comunidade não atingiremos os produtos agregados mais benéficos que ela pode nos proporcionar.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

EVENTO: 4º Encontro de Análise do Comportamento da PUC-SP

A comissão organizadora do 4º Encontro de Análise do Comportamento da PUC-SP gostaria de convidá-lo para participar do encontro que será realizado na PUC-SP nos dias : 

05 e 06 de novembro 
Campus Monte Alegre

Dia 5 no Edifício Reitor Bandeira de Mello - Prédio Novo (R. Ministro Godoy, 969)
Dia 6 no Prédio da Comfil (R. Monte Alegre, 961)




O EAC é um evento Acadêmico proposto e organizado exclusivamente por alunos do curso de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da PUC-SP, com apoio dos professores da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde do Curso de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento da PUC-SP. O objetivo deste encontro é promover e incentivar a discussão de temas relevantes e atuais da Análise do Comportamento.

Maiores Informações, acesso o site: www4.pucsp.br/encontro-analisedocomportamento/

domingo, 19 de setembro de 2010

Como identificar uma criança autista?



Entre os assuntos mais pesquisados neste site está o autismo. As postagens sobre o tema figuram sempre entre as mais visitadas. Ontem mesmo realizei uma postagem abordando um pouco da história do diagnóstico, e em menos de um dia, rendeu mais de 120 visitas ao site. Outra postagem que está em destaque no número de visitações é a disponibilização do método ABA de tratamento do autismo, um dos mais recomendados e eficientes do mundo.

O autismo é, com certeza, um dos transtornos mais desafiadores para a clínica Psiquiátrica e Psicológica. Seu diagnóstico é por observação, e o manejo clínico é complicado porque geralmente o autista não estabelece vínculo ou responde de maneira mais ou menos esperada as tentativas de interação do terapeuta.

Quanto mais cedo forem identificadas em uma criança as características de autismo, maiores as chances de um tratamento obter resultados melhores. Veja alguns sinais característicos do transtorno de espectro autista em um material desenvolvido por Sandra Lamb, do Paradigma - Pesquisa e Desenvolvimento do Ser Humano, de Florianópolis, SC.  

(Clique nas imagens para ampliar. Em seguida, aperte backspace para retornar)













O diagnóstico deve ser dado por uma equipe especializada, composta por profissionais de diferentes áreas da saúde. Caso conheça uma criança com estas características, procure encaminhá-la ao centro de tratamento especializado mais próximo para que receba avaliação adequada, e se for o caso, um tratamento bem feito. 




sábado, 18 de setembro de 2010

Autismo – um breve histórico.


… Imagine chegar em um país onde você não entende a língua e não conhece os costumes – e ninguém entende o que você quer ou precisa. Você, na tentativa de se organizar e entender esse ambiente, provavelmente apresentará comportamentos que os nativos acharão estranhos…” (citação retirada do Manual de Treinamento ABA – Help us learn – Ajude-nos a aprender.)

Esta frase pode ser utilizada para compreender a maneira de uma criança portadora do Transtorno de Espectro Autista pensar, sentir e se comportar. Muitos dizem realmente que o autista constrói para sí uma realidade paralela, alheia a nossa, e por viver “lá dentro” não consegue se comunicar com os outros que vivem no mundo “real”. Será verdade? 



Alexandre Costa e Silva apresenta uma revisão deste do diagnóstico e tratamento deste transtorno em seu texto Abordagem Comportamental do Autismo. Segue-se aqui um resumo comentado deste texto.


Breve Histórico.

A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para sí mesmo”. A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler para se referir a um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de Esquizofrenia. Estes critérios, os quais ficaram conhecidos como “os quatro ‘A’s de Bleuler, são: alucinações, afeto desorganizado, incongruência e autismo. A palavra referia-se a tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, tornando-se alheio ao mundo social – fechando-se em seu mundo, como até hoje se acredita sobre o comportamento autista.

Em 1943 o psicólogo norte americano Leo Kanner estudou com mais atenção 11 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia. Observou neles, o autismo como característica mais marcante; neste momento, teve origem a expressão “Distúrbio Autístico do Contato Afetivo” para se referir a estas crianças. O psicólogo chegou a dizer que as crianças autistas já nasciam assim, dado o fato de que o aparecimento da síndrome era muito precoce. A medida em que foi tendo contato com os pais destas crianças ele foi mudando de opinião. Começou a observar que os pais destas crianças estabeleciam um contato afetivo muito frio com elas, desenvolvendo então o termo “mãe geladeira” para referir-se as mães de autistas, que com seu jeito frio e distante de se relacionar com os filhos promoveu neles uma hostilidade inconsciente a qual seria direcionada para situações de demanda social.

As hipóteses de Kanner tiveram forte influência no referencial psicanalítico da síndrome que  pressupunha uma causa emocional ou psicológica para o fenômeno, a qual teve como seus principais precursores os psicanalistas Bruno Bettelheim e Francis Tustin.

Bettelheim, em sua terapêutica, incitava as crianças a baterem, xingarem e morderem em uma estátua que, pelo menos para ele, simbolizava a mãe delas. Tustin, por outro lado, acreditava em uma fase autística do desenvolvimento normal, na qual a criança ainda não tinha aprendido comportamentos sociais e era chamada por ela de fase do afeto materno,  funcionando como uma ponte entre este estado e a vida social. Se a mãe fosse fria e suprimisse este afeto, a criança não conseguiria atravessar esta ponte e entrar na vida social normal, ficando presa na fase autística do desenvolvimento. Em 1960, no entanto, a psicanalista publica um artigo no qual desfaz a idéia da fase autística do desenvolvimento.

Naquela época a busca pelo tratamento psicanalítico era muito intensa. Muitas vezes as crianças passavam por sessões diárias, inclusive no domingo. O preço pago era muito alto. Muitas famílias vendiam seus bens na esperança de que aquele método as ajudasse a corrigir o erro que haviam cometido na criação de seus filhos.

Com o advento da década do cérebro, no entanto, estas idéias começaram a ser deixadas de lado – além de não estarem satisfazendo as expectativas dos pais. A partir de 1980 foram surgindo novas tecnologias de estudo, as quais permitiam investigação mais minuciosa do funcionamento do cérebro da pessoa com exames como tomografia por emissão de pósitrons ou ressonância magnética. Doenças que anteriormente eram estudadas apenas a partir de uma perspectiva psicodinâmica passaram a ser estudadas de maneiras mais cuidadosas, deixando de lado o cogito cartesiano.

Já na década de 60 o psicólogo Ivar Lovaas e seus métodos analítico comportamentais começaram a ganhar espaço no tratamento da síndrome. Seus resultados apresentavam-se de maneira mais efetiva do que as tradicionais terapias psicodinâmicas. E já naquela época as psicologias comportamentais sofriam forte preconceito por parte dos psicólogos de outras abordagens.  Durante as décadas de 60 e 70 os psicólogos comportamentais eram consultados quase que apenas depois que todas as outras possibilidades haviam se esgotado e o comportamento do autista tornava-se insuportável para os pais e muito danoso para a criança.


E como o autismo é visto hoje?

É característico do autista apresentar alguns déficits e excessos comportamentais em diversas áreas, conforme melhor explicado adiante. O grau de comprometimento destes déficits podem variar de uma criança para outra e na mesma criança ao longo do tempo. Por este motivo, a expressão Transtorno do Espectro Autista  tem sido mais utilizada em detrimento da palavra Autista.

Manuais diagnósticos como o DSM – IV TR e o CID – 10 caracterizam o autismo como um transtorno pervasivo do desenvolvimento no qual existe comprometimento severo em áreas como: diminuição do contato ocular; dificuldade de mostrar, pegar ou usar objetos; padrões repetitivos e esteriotipados de comportamento; agitação ou torção das mãos ou dedos, movimentos corporais complexos; atraso ou ausência total da fala. A National Society for autistic children o encara como um distúrbio do desenvolvimento que se manifesta de forma incapacitante por toda a vida, aparecendo tipicamente nos três primeiros anos de vida. Define como critérios para diagnóstico do autismo o precoce comprometimento na esfera social e de comunicação.

Este Transtorno Invasivo do Desenvolvimento acomete apenas cinco entre cada dez mil nascidos, ocorre em famílias de todas as configurações raciais, étnicas ou sociais. Gauderer (1993) afirma que maioria das crianças com diagnóstico do Transtorno de Espectro Autista tem fisionomia normal, e sua expressão séria pode passar a idéia, geralmente errada, de inteligência extremada. Apesar da estrutura facial normal, no entanto, estão quase sempre ausentes a expressividade das emoções e receptividade presentes na criança com desenvolvimento típico.

Nem sempre o autismo está associado a deficiência mental. Às vezes ele ocorre em crianças com inteligência classificada como normal. O chamado “déficit intelectual” é mais intenso nas habilidades verbais e menos evidente em habilidades viso-espaciais. É muito comum, no entanto, crianças com este diagnóstico apresentarem desempenho além do normal em tarefas que exigem apenas atividades mecânicas ou memorização, ao contrário das tarefas nas quais é exigido  algum tipo de abstração, conceituação, sequenciação ou sentido.


Incidência

Existem várias definições e critérios diagnósticos diferentes do que vem a ser o autismo. Em  decorrência disto, é difícil traçar um nível de incidência confiável, pois conforme variam as definições e critérios diagnósticos, variam também a quantidade de pessoas diagnosticadas. Os índices mais aceitos e divulgados, no entanto, trazem uma média de 5 a 15 casos em cada 10 000 pessoas. Pesquisas epidemiológicas utilizando o DSM – III-R identificam o dobro deste numero. Quando os criterios medicos são deixados de lado em detrimento dos educacionais, a média aumenta para 21 casos em cada 10 000 pessoas. Quando a síndrome é mais rigorosamente classificada e diagnosticada, entretanto, encontra-se uma prevalência de 2 casos para cada 10 000 pessoas.

Independentemente de qual critério diagnostico seja adotado, sabe-se que pessoas do sexo masculino são em geral mais atingidas. De acordo com o DSM – IV, ele ocorre três ou quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Estas, no entanto, tendem a apresentar limitacões mais severas.


Algumas hipóteses etiológicas

Embora diversos tipos de alterações neurológicas e/ou genéticas tenham sido descritas como prováveis etiologias do autismo, não há nada comprovado ainda.  O transtorno pode estar diretamente associado a problemas cromossômicos, genéticos, metabólicos, e até mesmo doenças transmitidas ou adquiridas durante a gestação, durante e após o parto. A dificuldade em elaborar um diagnóstico de autismo é grande, quando se pensa que diversas síndromes possuem sintomatologia semelhante. Uma quantidade de 75 a 80% das crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista apresenta algum tipo de retardo mental, o qual pode estar associado a inúmeros fatores biológicos.

Alguns autores, como Gauderer  afirmam que algumas alterações encefálicas em fases críticas do desenvolvimento embrionário podem dar origem a algum tipo de transtorno que se enquadre no diagnóstico de transtorno do espectro autista, mas os exames clínicos que vem sendo realizados não demonstram correlação significativo entre estas alterações e o transtorno.

Texto originalmente publicado no site Psicologia e Ciência. 

domingo, 12 de setembro de 2010

L.U.A. - Liga Uberlandense de Análise do Comportamento inicia suas atividades

Nesta quinta feira, dia 9, foi o primeiro encontro da Liga Uberlandense de Análise do Comportamento. Compareceram 25 estudantes de Psicologia interessados em estudar melhor a abordagem. Veja a foto dos participantes.



O tema do encontro foi: relação conjugal. Foram realizadas Análises Funcionais de comportamentos comuns em casais.

Embora não tenha participado, pelo que conversei com os membros, foi bastante produtivo o encontro. Lembrando que quem tiver interesse em conhecer e participar da Liga, pode entrar em contato através do e-mail   luacrescente2013@gmail.com, ou comigo, através deste site. 



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eventos de Psicologia 2010 - Rio de Janeiro

A PSICOCLÍNICA COGNITIVA DO RIO DE JANEIRO OFERECE:

CURSO: TEORIA E PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Objetivo
Fornecer ferramentas para a prática clínica em psicoterapia Cognitivo-Comportamental.

Temas:  
Bases Históricas da TCC
Modelo Cognitivo
Relação Terapêutica
Técnicas de Entrevista
Conceituação Cognitiva
Depressão Maior
Transtorno Bipolar
Distimia
Transtorno do Pânico
Anorexia
Bulimia
Transtornos Sexuais
Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica
Transtorno Obsessivo Compulsivo
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Fobia Social
Stress


Público Alvo:
Psicólogos e Estudantes de Psicologia

Período:
11 de Setembro de 2010

Horário:


Sábados quinzenalmente (9 às 17 horas)


Local:


Psicoclínica Cognitiva do Rio de Janeiro - Av. Rio Branco, 277/1603 - Centro


Investimento:  
Taxa de inscrição: R$ 40,00 +
Estudantes - 4 parcelas de R$ 220,00
Profissional - 4 parcelas de R$ 250,00

DATA LIMITE PARA INSCRIÇÕES: 25 de agosto

Psicólogas Responsáveis:

Fabiana Trotta CRP 05/28777
Doutora em Psicologia - UFRJ

Fernanda Pereira CRP 05/27121
Doutoranda em Psicologia - UFRJ   Luciana Rizo CRP 05/29122
Mestre em Psicologia - UFRJ

Maria Amélida Penido CRP 05/29121
Doutora em Psicologia - UFRJ

Maiores Informações e Inscrição no site (clique aqui)


FORMAÇÃO EM PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Objetivo:
O curso de Formação em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental oferecido pelo ICCP tem como objetivo especializar profissionais e estudantes da área da psicologia e da psiquiatria em explicações científicas dos fenômenos psicológicos, bem como desenvolver habilidades e competências na aplicação de recursos terapêuticos cognitivos e comportamentais desenvolvidos em conformidade com esse modelo explicativo e comprovados empiricamente.   

Início: Outubro 2010
Turma Semanal: sexta-feira - 16h às 18h
Turma Quinzenal: sábado - 9h às 13h

Carga Horária:
14 meses: 10 meses de aulas teórica e
4 meses de prática clínica supervisionada. 
Programa:

Módulo I: O modelo cognitivo-comportamental: princípios, formulação de caso e relação terapêutica. Intervenções cognitivas e comportamentais: Técnicas e Estratégias.

Módulo II: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos do humor: depressão, transtorno bipolar, ciclotimias e distimias.

Módulo III: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos de ansiedade: TOC, TEPT, TAG, pânico, fobias específicas e fobia social.

Módulo IV: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares: bulimia, anorexia e comer compulsivo.

Módulo V: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos sexuais: parafilias e disfunções.

Módulo VI: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos de adicção: tabagismo, alcoolismo e substâncias psicoativas.

Módulo VII: Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos de personalidade: Evitativa, dependente, anti-social, narcisista, paranóide, obsessivo-compulsivo, esquizóide, histriônico e bordelaine (terapia focada em esquemas).

Módulo VIII: TCC com crianças e adolescentes e tratamento das psicopatologias infantis.

Módulo IX: Aplicações da TCC com outras populações e ambientes sócio-institucionais.

Módulo X: Seminários de conclusão de curso: temas livres à escolha do aluno (ex: esquizofrenia, neurociências, neuropsicologia, análise experimental, etc.)

Maiores Informações e Inscrições no site (clique aqui)

sábado, 4 de setembro de 2010

Liga Uberlandense de Análise do Comportamento - LUA

Gostaria de parabenizar os estudantes e profissionais de Análise do Comportamento da cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, pela fundação da Liga Uberlandense de Análise do Comportamento. 


Loggo criado por Leandro Lima


Ela é organizada por estudantes de Psicologia de diversas faculdades da cidade, e coordenada pelo Prof. Dr. Alexandre Vianna Montagnero, da Universidade Federal de Uberlândia. 

Sinto-me orgulhoso de ter sido convidado a compor a liga, mesmo residindo em outra cidade. Conheço de perto o trabalho do Prof. Dr. Alexandre Montagnero, e sei que desta equipe pode sair coisa muito boa!

A liga está nascendo agora. Quem tiver interesse em participar ou conhecer, envie e-mail para: luacrescente2013@gmail.com ou entre em contato comigo através do blog.